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Análise

A Sondagem Industrial é uma pesquisa aplicada anualmente desde 1995, visando mostrar qual o desempenho atual do setor e, também, as expectativas da indústria paranaense para o ano seguinte. Ela é também um importante instrumento para a compreensão das estratégias dos industriais do estado.

No último ano, observamos grandes mudanças no cenário geopolítico mundial, que aliadas às dificuldades da economia nacional e à instabilidade política do país acabam influenciando as expectativas do empresário industrial paranaense para o ano de 2023. Esse cenário se mostrou desafiador e a 27ª edição da Sondagem Industrial captou esse sentimento sobre o futuro próximo, como também sobre a realidade do ano corrente. Em meio a esse cenário, quando questionados sobre o futuro, os respondentes se mostraram menos otimistas para 2023, tanto em relação à economia do país quanto em relação ao desempenho da indústria paranaense.

Análise dos Resultados da Sondagem Industrial

2022 - 2023

Observando os principais resultados da pesquisa, 15% dos industriais participantes acreditam que a economia do país em 2023 apresentará crescimento ou forte crescimento e esse otimismo é motivado principalmente pela economia e pela política nacional. Já quando perguntados sobre as expectativas da indústria para 2023, 41% dos industriais se mostraram otimistas ou muito otimistas. Esse nível de otimismo, inferior aos anos de 2021 (68%) e 2022 (69%), se aproxima dos resultados de períodos de grandes crises, como em 2016 (33%), e retrata o posicionamento do industrial paranaense diante dos cenários nacional e global.

Isso se confirma quando observamos que 44% dos empresários expressaram expectativa “neutra” para 2023. Assim, é possível inferir que esses ainda não têm clareza sobre o futuro próximo, mostrando-se cautelosos sobre o desempenho da indústria em 2023.

Apesar das incertezas refletidas nos resultados, 80% dos empresários pretendem realizar novos investimentos em 2023 e suas prioridades de investimento são em melhoria de processos, produtos ou serviços, redução de custos de produção e prospecção de mercados. Para tanto, a maioria pretende utilizar os próprios recursos como principal fonte para custear os investimentos. Essas prioridades de investimentos podem indicar estratégias de ampliação de mercados, vendas e manutenção ou ampliação da competitividade e estão alinhadas às expectativas otimistas ou muito otimistas sobre o desempenho da indústria para 2023.

Nesse cenário, os temas de maior impacto para o desempenho dos negócios em 2023, elencados pelos industriais paranaenses, são a conjuntura econômica nacional, a agenda de reformas, a corrupção, a conjuntura econômica internacional e a desburocratização.

Fechando o rol das expectativas industriais para 2023, vale destacar o comércio internacional, onde 56% dos industriais que participaram da pesquisa afirmaram ter a intenção de exportar no próximo ano, com destaque para a exportação de outros produtos e insumos e matérias-primas. Esses empresários apontam que o conhecimento dos mercados, o conteúdo tecnológico e as políticas de incentivos governamentais são os principais fatores de influência positiva. Já taxas, burocracia administrativa, tempo de fiscalização e custos são os fatores com maior influência negativa para a exportação.

Já em relação às importações, 52% dos industriais afirmaram ter a intenção de importar em 2023, com destaque para a importação de insumos e matérias-primas, seguido de máquinas e equipamentos. Esses empresários apontam que o conhecimento dos mercados, o conteúdo tecnológico, as políticas de incentivos governamentais e a reorganização das cadeias globais de suprimento são os principais fatores de influência positiva e taxas, burocracia administrativa, tempo de fiscalização, situação econômica e geopolítica internacional e custos como os fatores com maior influência negativa à importação.

É importante salientar que o mercado externo é uma oportunidade a ser explorada, mas demanda competitividade, conhecimento do mercado-alvo e estratégia clara por parte das empresas.

Em relação aos resultados de 2022, percebemos que 67% dos empresários industriais paranaenses afirmaram que tiveram um ano bom ou muito bom em relação ao seus negócios, tendo como principais fatores vendas, produtividade e competitividade, novos mercados e investimentos. Esses empresários também indicaram que quatro temas se destacaram com alto impacto sobre o desempenho dos negócios em 2022. O tema mais relevante para os industriais é a carga tributária, seguido pela conjuntura econômica nacional, conjuntura econômica internacional e corrupção.

Nesse sentido, quando questionados sobre os investimentos realizados, a maior parte das indústrias que participaram da pesquisa afirmaram ter realizado pelo menos parte de seus planos de investimento para 2022. Dos respondentes, 18% não realizaram nenhum dos investimentos planejados e 82% afirmam ter realizado algum investimento no ano. Desses, 43% realizaram até 50% dos investimentos almejados e 25% das empresas realizaram de 50 até 100% dos investimentos inicialmente projetados para 2022. 14% das empresas participantes afirmaram ter realizado acima de 100% dos investimentos previstos.

Esses resultados refletem o bom desempenho das indústrias, conforme informado pelos respondentes, apesar dos desafios que ainda se impuseram neste ano. As indústrias participantes apontaram como prioridades de investimento a melhoria de processo, produtos ou serviços, a ampliação da capacidade produtiva e a melhoria de qualidade. Elas também informaram que utilizaram recursos próprios como a principal fonte de recurso para financiar suas iniciativas. Em linhas gerais, esse comportamento se explica pela dificuldade no acesso e pelo alto custo do crédito, além dos riscos de endividamento e as dificuldades inerentes na tomada de crédito.

Quando perguntados sobre a gestão de suprimentos, os empresários industriais apontaram a relação com os fornecedores e a qualidade dos produtos como os fatores mais adequados, tanto para o mercado nacional quanto para o mercado internacional. Já o preço dos insumos apareceu como o fator mais inadequado, tanto para fornecedores nacionais quanto para fornecedores internacionais. Os empresários também apontaram algum descontentamento com a logística em relação aos fornecedores internacionais.

É necessário colocar em relevo que a escolha de fornecedores é fator fundamental para o sucesso de qualquer negócio em qualquer tempo, especialmente em momentos de crise. De modo geral, a pesquisa indicou oportunidades ao identificar os níveis de satisfação em relação aos fornecedores, principalmente no mercado internacional. Há possibilidades de substituição de fornecedores em nível internacional por fornecedores nacionais, o que estimularia um maior dinamismo do mercado local.

Já em relação à concorrência, independentemente do mercado de atuação, o empresário industrial avalia que a qualidade, a gestão, a cadeia de fornecedores, o pós-venda e a logística são seus os principais pontos fortes. Por outro lado, os empresários também afirmam que a competição desleal, a carga tributária, a burocracia, os custos e a segurança/insegurança jurídica são os principais pontos fracos.

Vale destacar que os pontos fortes estão mais relacionados aos fatores internos à empresa, que podem ser trabalhados e melhorados aumentando a competitividade e a atuação no mercado. Já os pontos fracos estão mais relacionados aos fatores externos à empresa, sendo necessária a atuação e o apoio de entes públicos de todas as esferas de governo.

Em relação às atividades de comércio exterior, do conjunto das indústrias respondentes, 48% afirmaram ter exportado em 2022. Destacam-se a exportação de outros produtos, seguido de insumos e matérias-primas. Esses empresários apontaram o conhecimento dos mercados, o conteúdo tecnológico e a demanda como os principais fatores de influência positiva. Em contrapartida, afirmaram que taxas, burocracia administrativa e tempo de fiscalização e leis, normas e regulamentos são os fatores com maior influência negativa para a atividade de exportação em 2022.

Quanto às atividades de importação, dentre as empresas respondentes, 54% afirmaram ter realizado algum tipo de importação em 2022. Destacam-se a importação de insumos e matérias-primas, seguido de máquinas e equipamentos. Esses industriais apontam o conhecimento dos mercados, o conteúdo tecnológico e o preço e qualidade como os principais fatores de influência positiva. Já taxas, burocracia administrativa e tempo de fiscalização, situação econômica e geopolítica internacional e leis, normas e regulamentos como os fatores com maior influência negativa no processo de importação.

É importante considerar que o comércio internacional pode significar uma ampliação de mercados para as indústrias, principalmente em um período de crise econômica e com câmbio favorável. Nesse sentido, as atividades de exportação podem e devem ser aproveitadas por empresas de todos os segmentos e portes. Além disso, as mudanças na relação de comércio internacional, observadas recentemente, podem favorecer a relação de proximidade com fornecedores, buscando evitar a interrupção dos fluxos produtivos e a oscilação de custos em momentos de dificuldade, apresentando-se como oportunidades a serem exploradas por fornecedores nacionais.

Objetivando acompanhar as mudanças no mercado e analisando novas oportunidades, foi questionado aos industriais sobre dois novos temas: o ESG (questões ambientais, sociais e de governança) e o crédito de carbono.

Assim, ao serem questionados sobre seu interesse e conhecimento sobre o tema ESG, 68% dos empresários industriais responderam ter algum tipo de interesse no assunto. Desses, 49% gostariam de obter mais informações ou pretendem implantar o processo ESG em breve e 19% afirmam já ter o processo implantado em suas indústrias. Esses apontaram como principais motivações para a implantação do modelo reduzir custos e melhorar o resultado operacional, buscar novos mercados (nacionais e internacionais) e melhorar a relação com os trabalhadores, fornecedores e clientes.

Por fim, quando questionados sobre o mercado de crédito de carbono, 41% dos empresários industriais participantes da pesquisa responderam ter algum tipo de interesse no assunto. Desses, 40% gostariam de obter mais informações ou pretendem começar a operar no mercado de crédito de carbono em breve e 1% afirma já estar operando com crédito de carbono em suas indústrias. Esses apontaram como principais motivações para operar no mercado de carbono  a geração e negociação de créditos de carbono, o fortalecimento da cultura de sustentabilidade, a compensação das emissões de carbono e o acesso a novas linhas de crédito.

Recapitulando, créditos de carbono são unidades de medida que correspondem, cada uma, a uma tonelada de dióxido de carbono equivalente. Essas medidas servem para calcular a redução das emissões de gases do efeito estufa e seu possível valor de comercialização. A precificação do carbono é um estímulo à adoção de processos produtivos mais eficientes e menos poluentes. Além disso, trata-se de alternativa importante para redução, captura e compensação das emissões desses gases causadores do efeito estufa.

Em resumo, apesar das dificuldades enfrentadas pelo setor produtivo, os resultados da Sondagem Industrial mostraram que o ano de 2022 foi positivo. Os resultados indicam que, na perspectiva do empresário industrial paranaense, a economia e, principalmente, a atividade produtiva em 2023 podem passar por um período de ajustes, com possibilidade de enfrentamento de dificuldades de crescimento. Todavia, concomitantemente à dúvida sobre o que pode acontecer, o nível de incerteza captado na pesquisa também expressa esperança de que haverá melhoria de resultados ao longo do ano – o que dependerá, em grande medida, de decisões adotadas nas várias esferas de governo.

Assim, a indústria do Paraná se mostra disposta a cooperar para o crescimento do país por meio de sua intenção de realizar novos e substanciais investimentos, gerando renda e empregos de qualidade no estado. Nesse contexto, a manutenção de estratégias sólidas de enfrentamento dos problemas nacionais, com a estabilidade macroeconômica, social e política, o avanço das reformas e o apoio ao setor produtivo podem contribuir para aprimorar o ambiente de negócios e, consequentemente, melhorar os resultados da atividade produtiva em 2023.

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